15/04/2019
Em minha trajetória, a filosofia política e a psicologia se aproximaram por uma incessante busca de compreender não só como se dão as coisas que conhecemos como realidade mas qual a nossa relação com esse mundo, onde encontramos nosso lugar aqui neste planeta enquanto seres humanos.
Ao olhar para os grandes acontecimentos da história vemos que tratam-se sempre de pessoas fazendo escolhas que mais tarde farão parte da nossa história coletiva, e assim, inúmeras narrativas são tecidas ao longo dos anos.
A grande autora Hannah Arendt trouxe para mim esta intercessão do pensamento politico com a psicologia na citação: "Toda a dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história". Precisamos contar nossa história, coletiva e individual.
É pela contação de histórias da humanidade que podemos repensar o âmbito da política e do social em sua pluralidade se quisermos qualquer mudança no presente e futuro.
Mas e quanto à nossa história pessoal?
A psicoterapia nos permite iniciar um caminho de busca para descobertas e novas maneiras de ver nossa história.
O mergulho interior possibilita iluminar aquilo que antes não era possível ser visto mas que pode reconfigurar como a narrativa é contada dali em diante.
Talvez a partir dai, grandes e pequenas transformações possam ocorrer.
“Toda a dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história" (Hannah Arendt)
17/04/2019
Inicialmente um ovo que após um tempo torna-se larva. Esta alimenta-se intensamente neste período de várias mudanças e crescimento.
Então chega o momento decisivo da vida de uma borboleta, pois é na crisálida (também chamda de casulo ou pupa) que ela irá para a fase de metamorfose.
Para isto é importante encontrar um lugar seguro e protegido onde ela sofrerá um processo muito complexo, em um momento mais passivo ainda que de total transformação do seu ser: do ovo, para larva para a borboleta.
Os astecas viam a borboleta como símbolo da alma, do sopro vital que anima o corpo vivo e que caracteriza aquele último suspiro antes de morrer.
Similarmente, na antiguidade greco-romana a borboleta também remetia a alma ou psique.
Símbolo de vida, renascimento e transformação. A imagem da borboleta está ligada à própria capacidade humana para mudança, transformação.
É importante perceber que enquanto ser vivo estamos sempre mudando - se a larva não completar sua fase de crisálida não pode continuar a viver.
Mas é importante atentar à confecção do nosso casulo, buscando tecê-lo cuidadosamente em um ambiente de proteção para o período de preparação da metamorfose.
26/04/2019
Gosto da analogia entre o processo psicoterápico e o mergulho às profundezas oceânicas. O mergulhador encontra no fundo do oceano todo um universo: ecossistemas de corais e diversos outros peixes, moluscos, etc, ou outras criaturas bonitas, desconhecidas ou até assustadoras. Ele o faz com muito respeito a tudo o que lá descobre e também com um entusiasmo desinteressado, sem buscar algo para seu próprio interesse ou para lhe ser útil de alguma forma mas para explorar aquilo que lhe é, de certa forma, estranho pois não havia conhecido anteriormente.
E ainda há sempre a possibilidade de encontrar neste caminho, coisas perdidas a muito tempo que transformaram-se de alguma forma. Muitas coisas se modificam no fundo do oceano.
A pérola, por exemplo é produzida por um longo e árduo processo. As ostras possuem conchas formadas por nácar (uma mistura orgânica de camadas de conchiolina, calcite e carbonato de cálcio cristalizado) cuja função é defender o animal dos organismos parasitas e dejetos que podem prejudicá-lo. O molusco quando invadido por algum objeto estranho como um grão de areia, por exemplo, sofre um processo de dor e irritação mas que acaba por acelerar a produção de camadas de nácar protegendo-o do objeto invasor. Isto ocasiona na formação de uma pérola.
08/05/2019
Carl Gustav Jung nasceu numa cidade no nordeste da Suiça em 26 de Julho de 1875. Formado em medicina, resolveu seguir sua carreira na psiquiatria. Trabalhou em Zurich no famoso hospital psiquiátrico Burgholzli com o renomado Eugen Bleuler, reconhecido por suas pesquisas avançadas sobre a esquizofrenia. Buscava uma nova maneira de tratar a doença mental, mais humanizada e respeitando sempre o indivíduo que estava a sua frente.
Em 1903 estabeleceu o laboratório de psicopatologia experimental onde veio a desenvolver seu método de associação de palavras, contribuindo no estudo dos sintomas e da origem inconsciente das doenças mentais. Neste mesmo ano casou-se com Emma Rauschendbach com quem teve cinco filhos.
Teve uma famosa troca intelectual com Sigmund Freud e participação na comunidade de Psicanálise da época – ocupando o cargo de primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional. Todavia, mesmo que Freud tivesse visto Jung como um possível sucessor e porta-voz para o futuro da psicanálise, suas perspectivas tornaram-se claramente divergentes quando Jung publica seu livro “Símbolos da Transformação” em 1912.
Após o rompimento com Freud, Jung concentrou-se nos trabalhos que já desenvolvia a anos e torna-se então fundador da Psicologia Analítica ou Psicologia Profunda, que também é denominada Psicologia Complexa devido ao conceito de complexos desenvolvido em seu trabalho.
Jung faleceu aos 85 anos em 1961, após muitas obras escritas, experiências usufruídas e vidas tocadas. Seu pensamento reverbera desde então, vivo e fecundo.
“Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzindo à resposta que o mundo me der”(C.G. Jung).
13/05/2019
Jung foi fortemente influenciado por diversas vertentes da filosofia.
O filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso foi de grande inspiração para suas idéias.
Muito conhecido pelo seu aforismo "Tudo flui como um rio", onde enfatiza uma visão de mundo que é constantemente marcado pela mudança, pelo movimento e fluidez.
Tal caracterização fala muito da visão junguiana da psique: o dinamismo e movimento trazem a possibilidade de transformação, renovação.
Pode-se perceber similaridades desta perspectiva com as filosofias orientais, também muito influentes na obra junguiana.
"Aquele que entra no mesmo rio aflui sempre outra água.
15/05/2019
A visão dos opostos está constantemente em nossa realidade, a lei da termodinâmica já fala que toda energia requer duas forças opostas.
Mas a relação dos opostos se faz presente não só no mundo mas na psique humana.
Pois se há uma tendência extrema, unilateral dominando a consciência, ocorre então uma contraposição na psique inconsciente.
"Os opostos são as inerradicáveis e indispensáveis precondições de toda vida psíquica"(C.G.Jung)
A partir da colisão/tensão das forças opostas na psique pode nascer uma terceira possibilidade.
Esta mostra-se na forma de símbolo: irracional, ambígua e paradoxal.
O símbolo pode reconciliar as contradições ao dar luz a uma síntese.
Mas é importante enfatizar que toda síntese, toda conjunção psíquica é temporária - a unificação permanente é impossível.
Assim que surge um novo símbolo, também surge o seu oposto que inicia um novo processo de tranformação. O movimento é constante, voltamos a Heráclito: “Tudo flui”...
18/05/2019
Heráclito era conhecido na antiguidade como "o obscuro", falava de como a natureza, Physis, não aflora ou aparece mas se oculta e precisa ser "descortinada", revelada pela filosofia. A realidade, nesta visão, é ambígua pois ao mesmo tempo que revela sua essência dominante, a oculta.
Ele marca o inicio da dialética, de uma visão atenciosa para a relação dos opostos manifestos no mundo.
Dia e noite, frio e calor, bem e mal, masculino e feminino, céu e terra, yin e yang, luz e sombra... Há uma contradição inerente nesta perspectiva, pois os contrários se opõem mas também estão intimamente conectados e nesta relação tornam-se uma unidade.
Para o filósofo grego, tudo mais cedo ou mais tarde reverte-se no seu oposto.
Essa concepção está no termo enantiodromia, ideia essa ainda presente na formulação da psicologia analítica, Jung caracteriza este "o principio que governa todos os ciclos da vida natural, desde o menor até o maior".
Como psicoterapeuta vejo o papel essencial dos opostos no processo individual daqueles que buscam o autoconhecimento e transformação. “A alternância ou a experiência de se estar à mercê ora de um e ora de outro par de opostos é o sinal de uma consciência despertando. Quando a tensão se torna intolerável é preciso descobrir uma solução e o único alívio viável deverá ser encontrado em uma reconcialiação dos dois a um nível diferente e mais ou menos satisfatório"(Andrew Samuels).
23/05/2019
“Até onde conseguimos discenir, o único
propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão da mera existência” (C.G. Jung)
14/06/2019
Os contos de fada muitas vezes acabam sendo esquecidos na vida adulta, talvez somente relembrados quando por algum motivo há um reencontro com "Era uma vez..." seja com filhos, sobrinhos, alunos.
No entanto os contos de fada trazem inúmeros temas milenares que tratam de questões, prazeres e sofrimentos do ser humano durante gerações.
Repletos de símbolos pelos quais a psique se manifesta e traz a tona profundas forças muitas vezes dificeis de abordar em nós mesmos: desejo, vingança, raiva, amor, inveja...
Questões presentes desde os primórdios, em diversas culturas apresentando-se de diferentes formas.
Aproximar-se dos príncipes, princesas, monstros, bruxas e dragões por meio dos contos de fada pode tornar-se um recurso de conexão com estes temas tão primórdios da natureza humana, presente em todos nós em diversas formas e expressões.